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Prevenção de Crises no Agronegócio: Lições do Recente Caso no Setor Cafeeiro

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Por: Wilson Guilherme dos Santos, Sócio responsável pela Área de Agronegócios, RondinoMegale_Advogados


O recente pedido de recuperação judicial de uma das maiores empresas do setor cafeeiro brasileiro, com dívidas que somam R$ 2,1 bilhões, evidencia a necessidade urgente de estratégias preventivas no agronegócio. Este caso, longe de ser isolado, reflete vulnerabilidades estruturais que podem ser mitigadas com planejamento adequado e instrumentos jurídicos apropriados.


Compreendendo as raízes da crise


A reportagem da Bloomberg Línea (link abaixo) aponta fatores determinantes para a crise da empresa: preços elevados da commodity no mercado internacional, depreciação cambial e, crucialmente, a inadimplência de produtores. Este último ponto merece atenção especial, pois revela um padrão recorrente no agronegócio: quando os preços sobem significativamente após a fixação de contratos, muitos produtores optam por vender sua produção no mercado spot, descumprindo acordos previamente estabelecidos a preços inferiores.


O desafio dos contratos no agronegócio


Este comportamento oportunista representa um dos maiores desafios para offtakers como tradings, cooperativas e demais integrantes da cadeia. Quando o produtor vende sua produção a terceiros em vez de honrar contratos firmados anteriormente, gera um efeito cascata: a empresa que contava com aquele produto fica impossibilitada de cumprir seus próprios compromissos comerciais, frequentemente com tradings internacionais e contratos em dólar. Esta quebra na cadeia de abastecimento pode levar a prejuízos expressivos e crises de liquidez.


Estruturação de contratos robustos


A prevenção eficaz começa com a elaboração de contratos juridicamente sólidos, que estabeleçam garantias reais sobre a produção. Estas podem incluir penhor agrícola, alienação fiduciária de safras futuras, ou mesmo garantias hipotecárias. É essencial que estes contratos contenham cláusulas de penalização significativas para desencorajar o descumprimento, além de mecanismos de execução célere das garantias em caso de inadimplência.


Monitoramento ativo da produção


Além da estruturação contratual, é fundamental implementar sistemas de monitoramento da produção, especialmente durante o período de colheita. Isso pode incluir visitas técnicas periódicas, monitoramento por satélite e sistemas de rastreabilidade que permitam acompanhar o desenvolvimento da cultura. Este acompanhamento possibilita a identificação precoce de riscos de desvio da produção e a tomada de medidas preventivas.


Gestão de riscos financeiros integrada


A gestão preventiva também exige estratégias financeiras robustas. Operações de hedge para proteção contra flutuações cambiais e de preços de commodities são essenciais para empresas que operam internacionalmente. Igualmente importante é a diversificação de fontes de receita e de fornecedores, evitando dependência excessiva de determinados produtores ou mercados. Em nossas publicações anteriores, já destacamos como essa abordagem integrada de riscos pode fortalecer a resiliência das empresas do agronegócio.


Mecanismos de incentivo à fidelidade


Mais recentemente, desenvolver programas de fidelização de produtores tem se mostrado uma estratégia eficaz para mitigar riscos de inadimplência. Estes podem incluir bônus por entrega, condições especiais de financiamento para produtores fiéis, assistência técnica diferenciada e/ou compartilhamento de benefícios quando os preços internacionais sobem. Construir relacionamentos de longo prazo, baseados em confiança e benefícios mútuos, reduz significativamente o risco de quebras contratuais oportunistas.


O valor da assessoria jurídica preventiva


Como escritório especializado em agronegócio, temos enfatizado consistentemente que a assessoria jurídica não deve ser buscada apenas nos momentos de crise. A atuação preventiva de advogados especializados pode identificar vulnerabilidades em modelos de negócio, estruturar contratos que realmente protejam as partes e desenvolver mecanismos eficientes de resolução de conflitos. O custo de prevenir é invariavelmente menor que o de remediar.


Conclusão


O caso recente no setor cafeeiro deve servir como alerta para todo o agronegócio brasileiro. As crises financeiras raramente surgem de forma inesperada; são geralmente resultado de vulnerabilidades estruturais e riscos não adequadamente gerenciados. Ao adotar uma abordagem preventiva, com contratos sólidos, monitoramento eficaz e estratégias integradas de gestão de riscos, as empresas do agronegócio podem significativamente reduzir sua exposição a cenários adversos.


A reestruturação judicial após uma crise é possível, mas preservar a saúde financeira através de medidas preventivas continua sendo o caminho mais seguro e econômico. Este é o compromisso que mantemos com nossos clientes: fornecer as ferramentas jurídicas necessárias não apenas para superar crises, mas principalmente para evitá-las.



 
 
 

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